Há uns dias atrás estive na agência Bradesco, nessa cidade onde estou morando há poucos meses. Precisava falar com a pessoa responsável por abertura de contas e me aproximei da enorme fila. Contei rapidamente quantas eram as pessoas que estavam a minha frente, na tentativa de me estimular ao "jogo da paciência" incentivando-me a fazer a contagem regressiva (-Oba! Agora só faltam 14!!... Afff...)
Aí comecei a observar um pouco mais... o pior disso tudo não era o tempo que eu ia ficar aguardando para ser atendida e sim que haviam menos poltronas de espera do que o número de pessoas que alí haviam. Concluindo: eu era uma das pessoas que teria que aguardar em pé. E então começo a trocar o peso, ora para uma das pernas, ora para a outra... ora equilibro nas duas e penso rapidamente "Não! Não fica elegante uma mulher de pé com as pernas abertas!" ... E recomeço o troca-troca de pé a frente.
Minha paciência já estava começando a "reclamar" quando finalmente a fila dá uma boa acelerada e surge vaga para sentar.
-Ahh! Finalmente! - pensei . E sentei-me acomodando-me numa das poltronas.
Logo chega mais uma pessoa, uma mulher de mais ou menos quarenta anos e em seguida , um "senhorzinho"
de aparentemente uns setenta ou quase oitenta anos de idade , e eu mais que prontamente, sem pensar, me levantei e acenei ao senhor, indicando que ele poderia sentar em meu lugar.
A mulher veio em minha direção e disse que ela havia chegado antes dele. Eu não acreditava no que estava ouvindo. Então expliquei a ela que eu não ia sair da fila. Apenas estava cedendo o meu lugar ao senhor por ele ser idoso. Ela começou a retrucar baixinho e voltou para o lugar dela, posicionando-se em pé novamente mas encostada na parede.Todos na fila me olhavam atentamente.
O "senhorzinho" aceitou a minha oferta e agradeceu; sentou-se no meu lugar e lá eu voltei a aguardar em pé.
Um tempo se passa e novamente surge vaga numa das poltronas. Me acomodo e já estico minhas pernas tentando relaxar um pouco. Não demora muito e lá surge outro senhor e dessa vez acompanhado por uma senhora que devia ser sua esposa. Novamente me levanto e ofereço meu lugar a eles, sugerindo que eles se revezassem visto que era apenas um lugar e eles eram em dois. Na verdade falei isso esperando que alguém mais que ali estava sentado se dispusesse a ceder o lugar assim como eu fiz, mas para minha infeliz surpresa ninguém se manifestou.
O casal agradeceu e a esposa se sentou. O marido permaneceu em pé e eu fiquei indignada porque entre os que estavam sentados eram pessoas com idades que variavam entre 20 a 50 anos. O senhor que alí aguardava em pé devia ter quase oitenta anos.
Fiquei pensando e me perguntando onde estariam os valores de respeito nessas pessoas, a ponto de ninguém se mover a ter um ato de consideração e respeito àquele homem idoso.
Então comecei a observar todo o local, as pessoas que ali estavam , a forma como eram atendidos, a interação do povo, a forma como as pessoas mais jovens se comportavam diante dos mais velhos.
Notei que a maioria desconhece o verdadeiro sentido da palavra RESPEITO.
A mulher idosa ficou um tempo sentada e perguntou se o esposo não queria sentar-se um pouco para descansar, ele negou. Então tomei a coragem de perguntar a um rapaz bem jovem, deveria ter uns 20 anos, se ele não podia ceder o seu lugar na poltrona ao senhor que estava de pé.
O rapaz sorriu e me perguntou:
-Você está vendo nessas poltronas alguma coisa escrita, tipo: Preferencial a idosos???
Eu respondi que isso nem deveria estar escrito em nada, pois respeito é um príncipio onde todos deveriam praticar. O rapaz sorriu sarcasticamente, retirou uns fones do bolso e acomodou-os aos ouvidos, não me respondeu mais nada e nem tão pouco se levantou para dar lugar ao idoso.
Novamente todos me olhavam atentamente. O que será que pensavam naquele momento??
Fiquei impressionada com o descaso daquelas pessoas... "Ninguém se levantou!"
Indignada, eu falava "com os meus botões":
"- Será que ninguém ali sabia exercer a cidadania? Será que ninguém alí sabe que existe uma lei municipal, assegurando o direito aos idosos e que devem ser respeitados? Ou será que aquelas pessoas, bem como toda a população, talvez reservadas em seus problemas e, muitas vezes, cansadas pelas preocupações do dia-a-dia e o trabalho diário, não têm tempo para refletirem e se lembrarem de certos valores, tais como respeito e educação?"
Me perdí em minhas reflexões e nem ví o tempo passar. Logo chegou minha vez, fui atendida e rapidamente saí dalí. Seguí para o carro lembrando do rapaz que, sarcasticamente, me perguntou se eu via escrito nas poltronas algo que desse preferencia aos idosos.
Fiquei com raiva dele na hora mas depois tive pena, muita pena.
Quem desconhece os valores de cidadania e tão pouco sabe princípios e valores como educação e respeito também não sabe se respeitar.
Para mim é desnecessário repetir o quanto necessitamos e devemos respeitar os idosos! Isso é tão natural para mim quanto pedir licença, dizer obrigada ou por favor. Mas vejo que infelizmente, muitas pessoas esquecem este pressuposto básico.
O respeito aos mais velhos sempre foi um item bastante difundido na educação e também como princípio de um bom caráter. Não importa a classe social, desde a mais tenra idade é ensinado o quanto é importante respeitar aos mais velhos. Mas parece que isto tem ficado esquecido ...ou ignorado. Tenho visto muitas ações que evidenciam o oposto a esse ensinamento aprendido ao longo da formação.
E em se tratando de valores e de cidadania, não é importante respeitar apenas aos idosos. O certo é respeitar a todas as pessoas independentemente da posição social, cor, raça, sexo, condição econômica. Devemos praticar cidadania e respeitar ao nosso próximo.
E quando me refiro a “respeitar o idoso”, quero estender o valor ao idoso num sentido mais amplo: reconhecer sua importância como pedra fundamental na sociedade, é admirar a sua experiência de vida, o conhecimento acumulado ao longo de anos, compartilhar com os erros e acertos que desenvolveram no decorrer dos anos, adicionar na educação dos mais novos todas as experiencias ricas dos mais velhos, é reconhecer seus valores e não se surpreender se acontecer de você se deslumbrar com cada descoberta que surgir da sabedoria autobiografada nas linhas da sua própria vida.
Quando eu dei aulas na UNESP, sempre fiz questão de repetir essa pergunta:
-Um dia a juventude de hoje envelhecerá. Devemos sempre nos perguntar "Como queremos ser tratados quando nos tornarmos idosos? Serão respeitadas nossas opiniões?"
Para finalizar deixo um trecho bíblico como reflexão:
“O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro no Líbano. Plantados na Casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e de verdor...”. (Salmos 92: 12-14).
(Texto de minha própria autoria: Selene R.F.L.Lipe) - escrito em 12/04/2012, em Mirandopolis/SP.
